Surfando a Tendência de Alta
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Você já se perguntou como alguns investidores conseguem lucrar tanto quando o mercado está em alta? Bem, um dos segredos podem ser as opções, especificamente as opções de compra, também conhecidas como calls. Neste artigo, vou explicar como a opção de compra podem ser uma ferramenta poderosa para surfar as ondas de alta do mercado.
- Surfando a Tendência de Alta
- O que são Opções de Compra?
- Por que Usar Calls?
- Opção de Compra como Proteção: O Caso do Milho
- Opção de Compra para Alavancagem
- Os Riscos das Calls: O outro Lado da Moeda
- Estratégias para Mitigar Riscos
- Entendendo o Código da Opção de Compra
- Vencimentos e Códigos de Opções
- Conclusão: Opção de Compra é Ferramenta, não Mágica
- Glossário
- Perguntas e Respostas
O que são Opções de Compra?
Imagine que você pudesse comprar um ingresso que lhe desse o direito de comprar uma ação no futuro por um preço fixo, não importando quanto essa ação valha naquele momento. Esse “ingresso” é exatamente o que uma call representa no mundo dos investimentos.
Uma call é um contrato que lhe dá o direito, mas não a obrigação, de comprar uma determinada quantidade de ações (ou outro ativo) a um preço predefinido, chamado de preço de exercício ou strike, até uma data específica, conhecida como data de vencimento.
Por exemplo, se você compra uma call da Petrobras com strike de R$30 e vencimento em três meses, você está adquirindo o direito de comprar ações da Petrobras a R$30 cada, não importa qual seja o preço real da ação no mercado, a qualquer momento nos próximos três meses.
Por que Usar Calls?
Agora você deve estar se perguntando: “Por que eu usaria calls em vez de simplesmente comprar as ações?”. Bem, existem duas razões principais:
- Proteção contra altas de preço: Em primeiro lugar, as calls podem funcionar como uma antecipação contra aumentos de preço. Isso é especialmente útil se você somente deseja comprar um ativo no futuro e, consequentemente, teme que o preço possa subir.
- Alavancagem: Além disso, com as calls, você pode controlar uma quantidade muito maior de ações com um investimento inicial muito menor com a opção. Como resultado, seus ganhos percentuais podem ser muito maiores se você acertar na sua previsão. No entanto, é importante lembrar que essa alavancagem também pode representar a perda total do capital investido na opção se a previsão não se concretizar.

Opção de Compra como Proteção: O Caso do Milho
Imagine que um agricultor é dono de uma fábrica de ração animal e precisa comprar uma grande quantidade de milho daqui a três meses. O preço atual do milho é R$80 por saca, mas ele teme que possa subir para R$90 ou mais.
Para se proteger, ele decide comprar calls de milho com strike de R$90, pagando um prêmio de R$3 por saca. Vamos ver o que acontece em diferentes cenários:
O preço do milho sobe para R$100:
- Sem a call: Ele pagaria R$100 por saca.
- Com a call: Ele exerce seu direito de comprar a R$90, economizando R$10 por saca (menos os R$3 do prêmio, resultando em uma economia líquida de R$7 por saca).
O preço do milho cai para R$70:
- Sem a call: Ele compra no mercado a R$70.
- Com a call: Ele não exerce a opção (afinal, por que comprar a R$90 se pode comprar a R$70?). Ele perde o prêmio de R$3, mas ainda economiza R$7 por saca em relação ao preço máximo que estava disposto a pagar (R$90).
Como você pode ver, a call funcionou como um “teto” para o preço que você pagaria, protegendo-o contra altas excessivas, mas ainda permitindo que ele se beneficiasse de quedas no preço.
Opção de Compra para Alavancagem
Agora, vamos ver como as calls podem ser usadas para potencializar seus ganhos no mercado de ações. Suponha que você esteja muito otimista em relação às ações do Itaú (ITUB4) e acredite que elas vão subir nos próximos meses.
A ação ITUB4 está cotada a R$30, e você tem R$3.000 para investir. Vamos comparar duas estratégias:
Comprar ações diretamente:
- Com R$3.000, você pode comprar 100 ações a R$30 cada.
Comprar calls:
- Você encontra calls de ITUB4 com strike R$32, vencimento em 3 meses, custando R$1 cada.
- Com R$3.000, você pode comprar 3.000 calls, controlando o direito de compra sobre 300.000 ações (cada call representa 100 ações).
Agora, vamos ver o que acontece se a ação subir para R$35 em três meses:
Com as ações:
- Seu lucro seria (R$35 – R$30) x 100 = R$500
- Retorno percentual: 16,67%
Com as calls:
- Cada call agora vale R$3 (R$35 – R$32)
- Seu lucro seria (R$3 – R$1) x 3.000 = R$6.000
- Retorno percentual: 200%
Como você pode ver, o retorno percentual com as calls foi muito maior. Isso é o poder da alavancagem em opções!
Os Riscos das Calls: O outro Lado da Moeda
Antes que você saia correndo para comprar calls de tudo quanto é ação, é crucial entender que essa alavancagem funciona nos dois sentidos. Assim como os ganhos podem ser multiplicados, as perdas também podem ser significativas.

No exemplo anterior, se a ação do Itaú caísse para R$29, quem comprou as ações diretamente perderia R$100 (uma queda de 3,33%). Já quem comprou as calls perderia todo o investimento de R$3.000 (uma perda de 100%), pois as calls expirariam sem valor.
É por isso que sempre digo: nunca invista em calls (ou qualquer outro derivativo) mais do que você está disposto a perder. Trate o dinheiro investido em calls como se fosse dinheiro gasto em um bilhete de loteria – se der certo, ótimo, mas esteja preparado para perder tudo. Ao longo de sua jornada sobre investimentos você verá que existem estratégias mais interessantes para especular na alta, mas vamos aos poucos!
Conforme vimos, existem cenários que podem determinar que o valor da opção levem a poucos centavos próximo ao vencimento, o famoso “pozinho”, visto que a cotação da ação pode estar muito abaixo do valor de strike da opção. Considere que existem vários fatores que impactam o valor de uma opção ao longo de seu caminho até a data de vencimento. Em outros artigos entraremos em mais detalhes sobre essa formação do valor da opção ao falarmos das gregas: delta, theta, vega, gama e rho.
Estratégias para Mitigar Riscos
Felizmente, existem algumas estratégias que podemos usar para reduzir os riscos ao operar com calls a seco:
- Diversificação: Primeiramente, não coloque todos os ovos na mesma cesta. Em vez disso, divida seu investimento entre várias ações diferentes, ao invés de comprar calls de uma única ação.
- Stop Loss: Em seguida, defina um limite de perda e, consequentemente, venda suas calls se o preço cair abaixo desse nível. Por exemplo, você pode decidir vender se o valor da call cair 50%.
- Estratégias combinadas: Além disso, existem estratégias mais avançadas que combinam a compra e venda de diferentes calls para limitar o risco. Uma delas, por exemplo, é a “trava de alta“, onde você compra uma call com strike mais baixo e, ao mesmo tempo, vende outra com strike mais alto.
- Estudo constante: Por fim, lembre-se que o mercado de opções é complexo e está sempre evoluindo. Portanto, quanto mais você estudar e praticar, melhores serão suas decisões.
Entendendo o Código da Opção de Compra
Quando você for negociar calls na bolsa, vai se deparar com códigos que podem parecer enigmáticos à primeira vista. Vamos decifrá-los juntos:
O código de uma call na B3 (a bolsa brasileira) é composto por 7 caracteres:
- As 4 primeiras letras são o código da ação (por exemplo, PETR para Petrobras).
- A 5ª letra indica o mês de vencimento (A para janeiro, B para fevereiro, e assim por diante até L para dezembro).
- Os últimos números geralmente indicam o preço de exercício (strike).
Por exemplo, PETRL35 seria uma call de Petrobras com vencimento em dezembro e strike de R$35.
Essa “língua secreta” das opções pode parecer complicada no início, mas com a prática, você vai pegar o jeito rapidinho!
Vencimentos e Códigos de Opções
As opções possuem diferentes vencimentos, geralmente mensais e em alguns casos semanais. Cada vencimento é identificado por uma letra, seguindo a ordem alfabética a partir de janeiro (A) até dezembro (L).
Mês | Letra |
---|---|
Janeiro | A |
Fevereiro | B |
Março | C |
Abril | D |
Maio | E |
Junho | F |
Julho | G |
Agosto | H |
Setembro | I |
Outubro | J |
Novembro | K |
Dezembro | L |
Conclusão: Opção de Compra é Ferramenta, não Mágica
As calls são instrumentos poderosos que podem tanto proteger seu patrimônio quanto potencializar seus ganhos. No entanto, como todo instrumento poderoso, elas exigem conhecimento, prática e disciplina para serem usadas corretamente.
Se você está começando agora, meu conselho é: comece devagar. Estude muito, pratique com simuladores antes de colocar seu dinheiro em risco, e nunca aloque em opções mais do que pode se dar ao luxo de perder.
Lembre-se sempre: no mercado financeiro não existem almoços grátis. Altos retornos vêm acompanhados de altos riscos. Mas com estudo, disciplina e uma pitada de ousadia, você pode aprender a surfar as ondas do mercado com as calls, aproveitando as altas e se protegendo das quedas.
E você, já teve alguma experiência com calls? Compartilhe nos comentários! Estou ansioso para ouvir suas histórias e responder suas dúvidas. Afinal, o mercado financeiro é uma jornada de aprendizado contínuo, e estamos todos nessa jornada juntos!
Glossário
- Call: Opção de compra que dá o direito de comprar um ativo a um preço específico.
- Strike: Preço de exercício da opção, ou seja, o preço pelo qual o ativo pode ser comprado.
- Prêmio: Valor pago para adquirir uma opção.
- Vencimento: Data limite para exercer a opção.
- Alavancagem: Uso de capital de terceiros para aumentar o potencial de retorno de um investimento.
- Stop Loss: Ordem para vender um ativo quando ele atinge um determinado preço, limitando perdas.
- B3: Bolsa de Valores oficial do Brasil.